Os intelectuais africanos não podem continuar impávidos e serenos a contemplar a desgovernação, a corrupção, as arbitrariedades, a limitação das liberdades, que atentam contra os preceitos de democracia em África.
Por William Tonet
E atentam como se fosse um fatalismo os nossos países perpetuarem-se na miséria extrema, sob o comando de líderes, cujo feito maior tem sido a institucionalização da “gatunagem palaciana”, que enriquece, uma pequena elite, alcandorada no poder.
Nestes regimes não impera a alternância, nem a força do voto da democracia, mas o “voto das armas”, instituição garante da perpetuidade no poder.
É pois hora de resgatarmos o orgulho de sermos africanos e angolanos, unindo-nos todos para a construção de uma grande piroga visando resgatar do sonho de liberdade e verdadeira independência nacional.
É possível.
Basta querer e perseverar, sendo apenas preciso, neste século XXI, levantarmos, as novas gerações, tal como arregaçaram mangas, os nacionalistas, nos anos 50 e 60, que lideraram os movimentos para as independências, os gritos e mãos na criação de um “Amplo Movimento de Intelectuais Africanos para a Implantação da Democracia”, para implantarmos sociedades mais justas, livres e de verdadeira alternância de poder, onde a fraude e a batota eleitoral, passem a constituir ilícitos, limitativos a participação política.
Precisamos, definitivamente, higienizar as instituições políticas e públicas em África, porquanto, muitos dos nossos países, de 1960 a esta parte, depois das independências, regrediram, não devido somente à crise ou bloqueios económicos, mas à implantação e ascensão de regimes e líderes déspotas, cuja actuação de cariz “colonial” é pior que o colonialismo branco ocidental.
Em Angola os exemplos estão à mão de semear, pois a riqueza, está concentrada em meia dúzia de cidadãos na órbitra do Presidente da República, há 36 anos no poder, sem nunca ter sido nominalmente eleito, na lógica de “o poder corromper e a longevidade no poder, corrompe muito mais”, ao ponto de todos os filhos de José Eduardo dos Santos serem bilionários e milionários, tal como os seus lugares-tenentes, com base na delapidação do erário público.
Assim, enquanto as crianças continuam a nascer, a crescer e a morrer com fome, Isabel dos Santos por exemplo, se pavoneia pela Europa, comprando tudo, para “embranquecer” os milhões “duvidosamente” tidos como se caídos do céu.
Mas o mais grave, neste momento, digno de revolta é o facto de tendo um longo espólio privado, ainda se alcandora, a controlar dinheiro público, numa clara afronta à inteligência da maioria dos autóctones angolanos, confrontados com um prato de pirão sem kunduto, enquanto a princesa vai com um saco de mais de 200 milhões de dólares, para comprar a EFACEC, empresa portuguesa de cabos e instalações eléctricas.
Quer dizer, depois de dois filhos estarem a controlar a TPA, um tem o Fundo soberano do petróleo, a primogénita, não se contentando só com a UNITEL, as minas de diamantes, a banca comercial e afins, o pai, deu-lhe de bandeja o Plano Metropolitano de Luanda, não existe outro angolano, nem mesmo no seio do MPLA, com capacidade, para tal e mais recentemente, está liderar, segundo fontes a reestruturação da SONANGOL, onde passou a ter, no 9.º andar um gabinete de trabalho.
Ora, ainda que se reconhecesse muita inteligência, não era prudente a concentração excessiva de funções públicas nas mãos dos filhos do presidente.
Um governo integro, nacionalista e patriota, colocaria muito desse dinheiro, que alimenta os “barões da corrupção”, ao serviço das populações carenciadas, construindo mais escolas, postos médicos, hospitais, laboratórios, jardins de infância e faculdades.
Infelizmente, o colonialismo negro é pior que colonialismo branco, pois assenta o seu poder, no uso excessivo da força, para dirimir qualquer diferença verbal, criando e alimentando dispendiosos exércitos privados ou mesmo nacionais, de carácter partidocrata e não republicano.
É pois a força das armas, a verdadeira base da legitimidade, do actual regime, que nunca sairá do poder, por força do exercício da democracia: “ela nos foi imposta”, diz de forma recorrente, José Eduardo dos Santos, logo, não acreditando no seu exercício, mas no da ditadura, que no confronto, massacra, prende ou assassina, com a maior impunidade. Camulingue, Cassule, Nganga, Ganga, Igreja Kalupeteka, entre outros, como a prisão de Mavungo e dos 15+2, por, ingenuamente, terem acreditado, que a actual “constituição jessiana” era algo solene, cujas normas recorridas, não lhes garantiria a prisão, por evocação aos artigos, 40.º, 41.º, 43.º, 44.º e 47.º da CRA, consagrando os direitos a Informação, Formação, Religião e Manifestação e estejam “ditatorialmente” sem liberdade de movimentos.